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ARTIGOS

O SIGNIFICANTE NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

Návia T. Pattussi
Psicanalista

O estudo deste tema é decorrente da leitura do Seminário V de Jacques Lacan, “As Formações do Inconsciente”, onde se reeditaram as seguintes interrogações:

  1. O que é o Significante para Lacan?
  2. Como detectar o Significante na escuta da clínica psicanalítica?

Para introduzir as questões relembro o linguista Ferdinand Saussure, referência utilizada por Lacan para pensar o que é a linguagem e mais especificamente, o que é a fala que se escuta na clínica. Para Saussure, a palavra, ou signo, não é a relação entre um nome e uma coisa, mas uma entidade psíquica composta pelo significado e significante. O significado é o conceito, e o significante é a imagem acústica, ou seja, o som que fica no pensamento da palavra proferida. Para Saussure, sempre há relação entre ambos, uma vez que o significado dependeria do significante e vice versa.

A novidade que Lacan nos traz é demonstrar, através de sua leitura da obra de Freud, que o Significante sobrepõe-se ao significado, que geralmente não há relação entre eles, muito antes pelo contrário, há uma barra que os separa, uma divisão, de tal forma que o sujeito ao falar não sabe exatamente o que está dizendo, pois sempre diz mais do que aquilo que fala, sem se dar conta. Um dos exemplos é o sintoma que é um significante cujo significado é inacessível ao sujeito. Sente angústia ou tristeza intensa e não sabe por que sente isso. O sintoma é um significante a ser decifrado através da escuta do que o sujeito revela na fala para além do que ele diz.

O significante sendo autônomo em relação à significação – e os sonhos e delírios atestam isso quando por exemplo um psicótico diz que ele é um pássaro e que está voando – coloca em xeque a percepção aparente de que a fala é feita para comunicar algo para alguém, como aponta a linguística. Ela se presta a esse papel sim, muitas vezes, mas é bem mais do que isso, para a psicanálise lacaniana. A fala tem o caráter de invocação, de busca de reconhecimento, através do desejo de uma resposta.

O que é o significante lacaniano?

“Elemento do discurso situável tanto ao nível consciente como inconsciente, que representa e determina o sujeito” (CHEMAMA, 2007, p.346). Na definição de Lacan, “um significante é aquilo que representa o sujeito para outro significante” (LACAN, 1960/1998, p.833). Tomemos, por exemplo, um ato falho, que se revela na consciência, embora seja de ordem inconsciente. Se ao invés de chamar alguém pelo seu nome o sujeito lhe dá outra denominação se diz que o termo utilizado é um significante que a princípio não tem relação com o significado que seria a pessoa nomeada.

Quando elementos da fala referem-se a algum referente diz-se que são signos, pois tem a mesma interpretação por todos. Essa seria a linguagem dos animais, como das abelhas por exemplo, que Lacan cita em Função e Campo da Fala e da Linguagem. Também é essa a linguagem usada para comunicar na área jornalística ou cientifica, onde o que se busca é uma linguagem compartilhada.

No entanto na clínica, o que já é consciente para o analisante não lhe faz avançar, não extingue o enigma de seu sintoma. O que compreende de si ao mesmo tempo em que possibilita uma abertura para novas associações, também pode ser uma possibilidade de “fechamento” dependendo da forma como o analista escuta o que ouve. Ler o inconsciente, escutar para além do que se ouve requer além de análise pessoal, conhecimentos teóricos e técnicos do que seja a linguagem e mais especificamente do que seja o significante.

O que é o inconsciente? É composto por representantes de representações diz Freud e Lacan precisa que no inconsciente há significantes. Seriam as marcas do apagamento dos traços das vozes dos discursos que antecedem a concepção do sujeito, bem como daqueles que o envolvem através dos pais e mais especialmente, num primeiro momento, do discurso materno.
O que introduz o sujeito na realidade é o contato com o significante que é através da voz que é introduzido no mundo, especialmente a voz da mãe, a fala do adulto.

Propriedades do Significante

1. Está inserido no discurso como metáfora ou metonímia. O que é a metáfora? Quando uma palavra substitui outra, ou seja, quando um significante é substituído por outro significante, como exemplifica Joel Dor em “Introdução à Leitura de Lacan”. Quando o sigte “Psicanálise” é substituído por “Peste”, uma palavra que aparentemente não tem nada a ver com a primeira. Há uma substituição do sigte, mas se conserva a relação com o signo primeiro (S1/s1), a custa do recalcamento do significado do segundo elemento, peste. Na poesia, mais explicitamente, verificamos uma invasão de metáforas como nesse poema de Vinicius de Moraes:

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

A metonímia é a substituição de um termo por outro mas que tem alguma relação com o primeiro. Ex: tomar um copo, ler Machado de Assis, estar no divã.

A frequente utilização de metáforas e metonímias no discurso atestam a supremacia do significante e o quanto significante e significado podem ser independentes. Na verdade a fala plena, ou seja, aquela que desvela a verdade do sujeito é sempre metafórica e metonímica pois o que é dito sempre remete a outra coisa, que por sua vez remete à outra e assim vai num encadeamento que barra-se no muro da falta humana infinita.

Os mecanismos da metáfora e metonímia, segundo Lacan, são correlatos dos mecanismos de condensação e deslocamento que fazem parte da lógica do inconsciente . Por isso Lacan fala que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, posto que comporta marcas, significantes que insistem em se fazer reconhecer no discurso.

“O inconsciente não está alhures, ele se situa no mesmo lugar dos significantes (lugar do Outro). E, justamente por isto, podemos defini-lo como uma cadeia de significantes que se repete e insiste em interferir no discurso. O inconsciente é o que comparece na fala como dito que escapa à intenção do dizer e o que estrutura os processos de elaboração onírica, fazendo com que o sonho se apresente para seu autor como enigma a ser decifrado. Nesse sentido, o inconsciente é a outra cena desse Lugar (Outro) em que se produz uma escrita.” (FERREIRA, 2002, p.120).

2. Ambiguidade – dá margem à dúvida e ao engano quanto a sua significação. Em função disso é impossível considerar que seja possível compreender o discurso do outro se ele não falar sobre si, deixando-se revelar através da cadeia de significantes. Aquilo que o sujeito diz é sempre mais do que ele pensa estar dizendo. A dimensão do engano faz parte da fala. Talvez em função disso sejam tão comuns os problemas de comunicação, uma vez que as interpretações podem ser múltiplas.

3. O significante não significa nada – O significante em si, como as imagens dos sonhos, por exemplo, não significam nada e será somente através da fala que há a possibilidade de sentidos diversos. Ele é acompanhado de um sem sentido aparente precisa ser decifrado e não decodificado. Freud esclarece bem essa diferença, pois tem implicações técnicas consideráveis. A decodificação supõe a interpretação de um código suprimido mas que é do conhecimento de uma determinada comunidade. O deciframento refere-se a uma linguagem desconhecida que busca revelar-se no sujeito.

4. O significante não representa nada sozinho – O significante precisa ser lido pelo analista, pois é particularmente a sua escuta por um sujeito que o reconhece como representando outro sujeito que lhe dá o caráter de significante. Desta forma é possível captá-lo em toda a sua potência de verdade e não de realidade. O significante sozinho choca-se com a realidade compartilhada e causa estranheza. É necessário situá-lo sincronicamente, isto é, através da relação com os demais elementos que compõem o cenário em que aparece na frase. Também precisa ser considerado quanto ao seu caráter diacrônico que implica a dimensão do tempo e a historicidade do termo.

Ao escutar o analisante é necessário distinguir os dois níveis em que se mostra a fala: da cadeia sgte e do discurso. A cena que se mostra ou que é dita é uma representação. A língua é uma representação onde as letras, as palavras representam um campo questionável para a psicanálise. Outras teorias podem dizer que a linguagem representa a realidade dos sujeitos, mas para a psicanálise, a fala representa a verdade do sujeito que se esconde e revela através do discurso racional, consciente. Esse, é o discurso racional permeado por signos, que nem sempre é atravessado pela cadeia significante.

  1. Manifesta-se através de cadeias significantes – um significante se enlaça a outro formando elos, substituindo, deslocando sentidos.As ligações dos significantes em cadeias ocorrem em duas dimensões: a da combinação, continuidade, concatenação da cadeia e a da substituição em função da sincronia. Eles repetem-se de forma disfarçada pelo deslocamento em palavras ou situações que se substituem. Insistem no discurso, denunciando de forma velada e ambígua a verdade do sujeito.

OBS: Texto em construção

Bibliografia

  1. Lacan, J.Seminário V – As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
  2. Lacan, J. Seminário III – As Psicoses. 2ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.
  3. Lacan, J. Função e Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 238-324.
  4. Lacan, J. A Instância da Letra no Inconsciente ou a Razão desde Freud. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 496-536.
  5. Chemama, R & Vandermersch, B. Dicionário de Psicanálise. São Leopoldo RS: Editora Unisinos, 2007.

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